DARQ

Fotografia e Composição; Géneros Fotográficos

Os objetivos desta disciplina devem permitir aos estudantes conhecer a técnica fotográfica; a História da Fotografia no contexto social, científico e artístico, assim como aumentar significativamente a cultura visual contemporânea de forma a amplificar o espírito crítico na reconstrução do mundo a partir de imagens.

Procura-se que os estudantes desenvolvam projetos pessoais partindo do conhecimento da História das imagens, articulando o conhecimento teórico e a prática artística. Um deles em torno da ideia de autorretrato e o outro a partir da noção de apropriação.

O programa aborda de forma breve questões da natureza essencial da Fotografia: A Fotografia como modelo de subjetividade; A natureza multiplicativa das imagens; Fotografia vs. Imagem; A imagem como construção do mundo; Uma ética da Fotografia; História breve da Fotografia: da Pintura do séc. XVI à Fotografia Contemporânea.

Grande parte do programa ocupa-se da Fotografia Contemporânea a partir de uma categorização da prática artística e da sua receção crítica, tendo como matriz conceptual e temporal a Arte Contemporânea. Esta categorização está organizada a partir das seguintes ideias: A fotografia antes do ato de fotografar; Narrativas pictóricas/ fotografia encenada; Narrativas domésticas e privadas/realismo subjetivo; Fotografia objetiva/ inexpressionista; Documento e arte; Apropriação e citação.

A fotografia existe, em potência, antes do seu tempo, e assim teremos de recuar, pelo menos até ao séc. XVI no sentido de localizar os primeiros sintomas de uma mundividência proto-fotográfica.

Teríamos que esperar pelo século XIX para encontrar a pré-história da fotografia decorrente das condições tecnológicas trazidas pela Revolução Industrial e consequente avanço científico.

Como refere Pedro Miguel Frade, (“Figuras de Espanto”) são as ciências as grandes impulsionadoras da criação das novas próteses do olhar. No final do século XIX a Europa usava a Fotografia como forma de marcar o tempo e registar a memória. Rapidamente foi identificada como indício de modernidade. Baudellaire foi dos primeiros a perceber as suas potencialidades, tendo problematizado da seguinte forma o seu papel desestabilizador, no campo artístico: “Nestes lamentáveis dias surgiu uma nova indústria que contribuiu para que a chã estupidez fosse reforçada na sua crença…, que a arte mais não é, e mais não pode ser do que a reprodução exacta da natureza…um Deus vingativo satisfez a voz destas pessoas. Daguerre foi o seu Messias.”

Para além da emergência da Fotografia no campo das artes visuais decorrente do esgotamento das artes tradicionais, ou belas-artes, também parece pertinente pensar essa emergência como resultado da construção de um sistema de representação do mundo, fundado na noção de sociedade da informação mass-mediática.

A partir dos anos 70 a imagem fotográfica e televisiva está em todo o lado. Assistese a uma banalização da imagem enquanto instrumento de perceção da realidade. A nossa experiência é, hoje, absolutamente dependente desta condição. Sendo a nossa memória de raiz imagética/fotográfica precisa de ser alimentada por imagens, tornando inimaginável um mundo sem fotografia. A problemática da imagem nas sociedades atuais, fortemente mediatizadas coloca, como alguém disse, a grande questão contemporânea acerca das imagens: a impossibilidade de não ver.

O que procuramos numa fotografia? Aquilo que Walter Benjamin encontrava nas obras de Atget: complexidade, multiplicidade e contradição? No mesmo sentido em que Theodor Adorno falava na qualidade da arte que nos torna conscientes das contradições porque não as resolve. É , pois, esta potência que não se cumpre no objeto fotográfico mas sim na recepção participativa do espectador que faz das boas imagens, imagens singulares. Finalmente, diríamos, como Hugo Hofmannsthal, que o artista deve ser um sismógrafo: um lugar para onde convergem as imagens do seu tempo, de forma a que a arte nos traga conhecimento, para além de fruição.

José Maçãs de Carvalho