Fo:RCE – Fotografia: Reflexão, Criação e Ensino
O 1º ano é o ano da aprendizagem técnica. Qualquer fotógrafo entende o que a técnica fotográfica tem de essencial. Através dela é estruturada a expressão fotográfica em potência e a alteridade da mesma. A aprendizagem técnica não é simples nem deve ser simplificada. Deve ser exigente e rigorosa mas simultaneamente cuidadosa no seu modo de transmissão. Esta transmissão da técnica com o objetivo de ser apreendida pelo aluno não deve ser estéril; a técnica pela técnica é a mais imbecil demonstração de um fotógrafo e isto deve ficar explícito para os alunos. Uma técnica que se basta a ela própria corre o risco de mimetizar a figura do culturista que trabalha o corpo com o único objetivo da sua exibição, desprovido de qualquer propósito posterior, por oposição ao desportista que molda o seu corpo e mente de modo a poder correr mais rápido, saltar mais alto, jogar melhor e contribuir para uma melhor performance da sua equipa. Gostaríamos que todos os nossos alunos tatuassem a frase de Victor Palla e Costa Martins, incluída no índice do famoso “Lisboa Cidade triste e Alegre”: “Perfeição Técnica, ao fim e ao cabo, só pode querer dizer que a técnica usada foi a que mais perfeitamente se adequava à ocasião, ao tema e à intenção do autor.”
Devemos pensar a aprendizagem da técnica como um canal para outras aprendizagens e transmissão de outros conteúdos que proporcionem a melhoria quer da absorção da técnica na sua aplicação fotográfica escolhida, quer dos conteúdos que são ministrados em simultâneo. Ela deve ser acompanhada por uma consciência da comunidade fotográfica, da utilização que os vários fotógrafos fazem dela na sua expressão fotográfica. Não basta a técnica, é necessário saber o que fazer com ela.
A técnica fotográfica não se resume à correta utilização da máquina ou da iluminação. é também uma técnica do pensamento. Se a Fotografia tiver que escolher um campo entre a episteme e a tekne ela será sempre tekne: um conhecer do mundo através do fazer.
O esforço de estruturação de um curso deve obedecer a uma integração da História, Teoria, Prática e Técnica de um modo consciente e deliberado. Este esforço pode ocorrer numa só disciplina ou através da conjugação de várias disciplinas , e deve estar presente no quotidiano de um curso em encontros formais e informais sobre as melhores formas, os exercícios mais adequados, as evoluções dos alunos. Só assim se garante a plena integração.
2º ano
Após a consolidação dos conhecimentos técnicos e teóricos essenciais e da aprendizagem de processos de trabalho realizada no primeiro ano, pretende-se abordar diferentes campos da prática fotográfica, cada um deles com especificidades técnicas, teóricas e históricas diferentes, que consequentemente geram práticas da Fotografia diversas. Os alunos irão colocar em prática as suas capacidades recém adquiridas na construção de projetos fotográficos de caráter diferente, onde a principal preocupação será de ordem criativa, embora sem descurar a parte técnica e teórica. É um ano de diversidade.
Disciplinas: 1º Semestre - Cor e Prática Laboratorial; Fotografia Contemporânea ; Projeto de Fotografia Documental I ; Olhar o outro: Fotografia e Antropologia; Análise de Imagem: Fotografia e Cinema ; Marca e Ícone: Fotografia de Publicidade.
2º Semestre - Autoria Multimédia : Projeto Integrado Multimédia; Atelier de Fotografia de Moda; Vídeo e Som: Projeto Integrado Multimédia; Projeto de Fotografia Documental II ; Gestão de Projeto; História da Fotografia Portuguesa.
Este ano é pedido aos alunos a aplicação de muita da sua energia à aprendizagem de técnicas e processos de trabalho dirigidos a um futuro profissional. Simultaneamente é o ano da prática documental. Temos assim dois eixos essenciais (que se cruzam em várias intersecções).
Dá-se, por um lado, a aprendizagem da gestão de cor (integrada com o pensamento sobre a cor enquanto criadora de sentido na fotografia e na cultura em geral), dos processos e técnicas da fotografia publicitária, da fotografia de moda, da utilização da máquina DSLR para produção de vídeo e som e, finalmente, a disciplina de gestão de projeto que encara de frente os problemas com que se defronta qualquer aluno ao sair da faculdade: quanto vale o trabalho de um fotógrafo e como consigo ganhar a vida como fotógrafo? Esta aprendizagem é essencial e não devemos evitar o confronto com o mercado. Uma licenciatura em Fotografia tem o dever de formar práticas comerciais, debater o valor do trabalho, abrir o caminho para o futuro autónomo dos estudantes.
Existe, por outro lado, um eixo dominado pela Fotografia Documental com um projeto de fundo, de duração anual que se desenvolve em Projeto Documental I e II. As questões em torno do documental são abordadas também em Olhar o Outro: Fotografia e Antropologia, Fotografia Contemporânea, e Análise de Imagem: Fotografia e Cinema. Esta imersão no território do documental através de múltiplas perspetivas revela-se produtora de sentido na construção em profundidade do projeto documental. É um ano de solidificação das técnicas fotográficas e das práticas de projeto, de aprendizagem das abordagens contemporâneas a vários campos da Fotografia e do tomar de consciência das suas potencialidades, de modo a poderem estar preparados para o último ano da licenciatura.
3º ano
No último ano a questão que se coloca é: O que fazer com a Fotografia? Aqui os alunos podem realizar o projecto fotográfico que idealizam, acompanhados pelos professores em sessões de apresentação e crítica colectivas, onde todos aprendem com todos. No final, estes trabalhos são exibidos em espaço público, numa primeira aventura fora do ambiente protegido da universidade. Simultaneamente é o ano de realização do estágio em ambiente profissional e supervisionado por um professor, podendo os alunos optar pela área da Fotografia na qual pretendem continuar o seu trabalho futuro.
Disciplinas: 1º Semestre - Fotografia Autoral: Projeto Individual I ; Conservação e Restauro- Processos Alternativos; Fotografia de Arquitetura ; Direção de Fotografia para Publicidade e Moda; Opção I (Retrato Fotográfico).
2º Semestre - Fotografia Autoral: Projeto Individual II ; Edição e Publicação para Fotografia; Opção II (Fotografia e Comunidade); Seminário de Projeto e Estágio.
O último ano é estruturado a partir da orientação para projeto em todas as disciplinas. Isto significa que os alunos devem, em todas as disciplinas, investigar, refletir, produzir e concretizar. Estes projetos, de características diferentes e com objetivos diversos, não raras vezes se sobrepõem e cruzam, o que exponencia o potencial de cada um. Os projetos são constituídos com propósitos diferentes e têm como disciplina estrutural Fotografia Autoral: Projeto Individual I e II. É nesta disciplina que se afirma a alteridade de cada um dos estudantes, a partir da construção, debate e produção de um projeto que culmina na exposição final dos trabalhos do curso. Em simultâneo desenvolvemse projetos em Fotografia de Arquitetura, Direção de Fotografia para Publicidade e Comunicação, Processos Alternativos e Edição e Publicação para Fotografia. O curso de Fotografia apresenta ainda como opções Retrato Fotográfico e Fotografia e Comunidade. As disciplinas de Edição e Publicação para Fotografia e Fotografia e Comunidade (opção) são pensadas como projetos coletivos (embora os alunos desenvolvam também exercícios individuais).
Deixo aqui uma seleção dos trabalhos dos alunos do último ano (3º ano - 2017/18) que a todos nos orgulham.
Rodrigo Peixoto