ARQUITECTURA E FOTOGRAFIA

 
 

ARQUITECTURA E FOTOGRAFIA - MAPEAMENTO FOTOGRÁFICO: APROPRIAÇÃO, PERCEPÇÃO, MOMENTO

POR SOFIA F. AUGUSTO

Palavras-­chave: espaço/arquitectura, apropriação, percepção, momento, tempo

ARQUITECTURA E FOTOGRAFIA - MAPEAMENTO FOTOGRÁFICO: APROPRIAÇÃO, PERCEPÇÃO, MOMENTO (AF-MF) é um caso de estudo que está integrado num projecto mais vasto de investigação visual subordinado ao título “Mapeamento de Fotografia Documental e Artística: Um olhar Contemporâneo sobre Arquitectura e Espaços de Referência no Porto (MFDA-ARP).” 

AF-MF tem como objectivo a exploração de uma obra de Arquitectura através da Fotografia, neste caso o edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) e pretende constituir-se como o primeiro caso de estudo do projecto MFDA-ARP, projecto este que irá integrar uma série de outros casos de estudo e diversos autores focalizados em várias obras arquitectónicas de referência na cidade do Porto.


AF-MF é um projecto de fotografia contemporâneo que toma como seu objecto artístico a Arquitectura e que, por isso, não se integra  na categorização convencional das imagens de Arquitectura que, na maior parte das vezes, se apresentam como meras produções da chamada “fotografia de arquitectura”. Pretende-se, ao contrário dessas estratégias de representação mais main stream ou comerciais, aprofundar e explorar novas formas (artísticas) de olhar e compreender o espaço construído, bem como a forma como ele é apropriado.

O Estado da Arte para este projecto fotográfico engloba diversos trabalhos, referências e autores relacionados com Fotografia Contemporânea considerados de interesse para este estudo. Todos eles têm em comum o facto de tomarem a Arquitectura como objecto artístico e se interessarem pela forma como as pessoas se apropriam dos espaços construídos – tanto a nível privado como público. Para além disso, revelam também um interesse significativo pelos valores culturais e económicos que caracterizam o mundo contemporâneo traduzidos nas  formas, materiais e diferentes formas de apropriação da Arquitectura e dos seus espaços. Autores como Paul Graham, Jeff Wall, Thomas Struth ou ainda David Claerbout são fotógrafos importantes como referência para este trabalho e que não vêm do campo disciplinar da Arquitectura e, por isso, nos oferecem novas perspectivas críticas e poéticas sobre este universo. Pretende-se assim que a fotografia seja utilizada não só como um meio de registo, mas também como um instrumento de procura, análise e exploração do espaço. Ou seja, utilizar a fotografia como um instrumento documental e artístico capaz de criar uma narrativa crítica e poética que permite uma nova leitura do real e da forma como o espaço pode ser  percepcionado e compreendido e, dessa forma, criar um “novo espaço”.

Neste contexto, decidiu-se adoptar para o caso de estudo uma estratégia capaz de estruturar o trabalho quer em termos espaciais como conceptuais e, partindo da ideia de percurso, idealizou-se uma “promenade arquitectónica" que passa por quatro momentos distintos que constituem a matriz base deste trabalho fotográfico: aproximação à obra, entrada, promenade (momentos de apropriação) e saída. Estas quatro situações constituem os marcos de referência da estrutura conceptual do trabalho, ou seja,  definem os momentos/espaços-chave e a lógica, para a construção de uma narrativa, (que se repetirá em outros edifícios, sendo assim um denominador comum que unificará a estratégia de trabalho nos futuros casos de estudo que adoptem este método).

É importante referir que é nos momentos de apropriação, que pressupõem acção e a presença humana, que o registo de imagens se singulariza e nos traz uma nova percepção - o tempo, o espaço e o significado transformam-se. Desta forma, idealizou-se uma estratégia artística que fizesse uso de várias câmaras fotográficas sincronizadas, que registassem o mesmo momento a partir de diferentes pontos-de-vista. Era assim introduzida uma nova dimensão no trabalho, passando a ter mais um tema de exploração – o momento –,  a partir de percepções diferentes do mesmo espaço e do mesmo instante, explorando assim o lado caleidoscópico da perspectiva.


No início do trabalho, com o objectivo de  contextualizar o caso de estudo e ficar mais familiarizada com os conceitos e história da relação entre Arquitectura/Espaço  e Fotografia, foi necessário efectuar uma pesquisa a partir de teses (de Mestrado em Arquitectura pela FAUP) que abordam esta relação, bem como o estudo da própria História da Fotografia, desde as experiências pioneiras até à actualidade, contando com o trabalho de autores contemporâneos e as narrativas que constroem.


Ao longo deste tempo dedicado à pesquisa foi muito importante a realização de um levantamento de um conjunto significativo de obras fotográficas de diversos autores, cujo critério se baseou em perspectivas, conceitos, formas de aproximação e estratégias consideradas de interesse e pertinentes para esta investigação. Por conseguinte, foi uma etapa de trabalho essencial e embrionária que permitiu construir algumas bases teóricas para o cumprimento dos objectivos desta investigação e que possibilitou a criação de uma significativa base de referências (teórica e visual) focalizada nas temáticas da investigação e caso de estudo. Este conjunto de referências engloba não só fotógrafos portugueses como estrangeiros, bem como trabalhos fotográficos específicos de arquitectura e outros de outra natureza que se podem incluir pelo tipo de narrativa visual e estratégia artística adoptada (questões de apropriação, vivências do espaço, e outras questões similares).


É importante referir que, até ao presente momento e após pesquisa bibliográfica e na Internet, apenas se descobriu um projecto fotográfico que adoptasse a FAUP como seu objecto artístico ou que adoptasse uma estratégia documental e ficcional de teor mais autoral neste espaço. Falo do trabalho “A Declaration of Time” (2013/2014) de Cláudio Reis, onde, numa assumida referência ao trabalho de Guido Guidi, o autor explora a passagem do tempo através da mutabilidade das sombras projectadas no complexo edificado da FAUP. Desta forma, Reis explora uma faceta menos óbvia da materialidade do construído e das suas possíveis expressividades e peculiaridades, mesmo que estas sejam efémeras, justificando a necessidade de um olhar  atento.

Existem no entanto outros trabalhos como, por exemplo, os de Giovanni Chiaramonte, Nelson Garrido ou de Duarte Belo que, embora tenham o seu traço autoral, não são trabalhos que tenham como objectivo a construção de narrativas visuais onde o registo e a ficção sejam explorados de forma propositada para construir uma nova leitura crítica e poética do real.

Assim, destacam-se como principais referências os trabalhos iniciais de Thomas Struth (1954, Alemanha) nos anos 70, que nos revelam, através de diversas séries fotográficas, ambientes urbanos banais onde se advinha a contingência da vida e o quotidiano das pessoas que vivem e trabalham nesses espaços. As imagens de Struth são o resultado de uma estratégia artística que, por um lado, adopta uma tomada de vista aparentemente neutral e, por outro, se interessa por um registo “objectivo” dos espaço desses ambientes urbanos. Tudo isto lhe permite retratar e mostrar a identidade de quem habita e percorre aqueles espaços diariamente, de forma mais profunda e real. Parece-nos que o facto de orientar a captura das imagens através de um olhar mais liberto de uma ideia preconcebida sobre essas identidades (tomada de vista aparentemente neutral) permite a Struth retratar a identidade e até mesmo a história destas comunidades, expressas no espaço urbano, de forma mais real. As suas imagens são pois o resultado de uma tomada de vista objectiva e de composições simples mas profundas, onde não existe nenhum tipo de encenação, conseguindo assim obter um registo genuíno e espontâneo do quotidiano e das pessoas que diariamente fazem parte daqueles espaços públicos urbanos.

Ao contrário da estratégia artística mais sofisticada de Candida Höfer, (também ela pertencente ao grupo de autores fotógrafos com origem na Escola de Dusseldorf  e aluna de Bernd e Hilla Becher), a tomada de vista de Struth é propositadamente “despida” de artefactos, ou seja,  como se fosse o ponto-de-vista de um observador comum (como o de um mero transeunte), reforçando ainda mais desta forma a naturalidade com que regista as suas imagens. Outra característica das suas fotografias sobre o espaço urbano é a de possuírem uma escala humana. Isto é, o seu olhar não pretende ser um “voo de pássaro” ou um olhar totalizador, mas sim um olhar humano assumindo as limitações que o assistem – este aspecto facilmente se depreende ao verificarmos que o autor corta o topo dos edifícios nos enquadramentos das suas fotografias, veja-se o exemplo de “53rd Street at 8th Avenue, New York, 1987”.

Struth é pois uma referência significativa para este trabalho, não só pela sua aproximação mais “humanista” aos espaços urbanos, mas também pela forma “neutral” como os regista. Estas características outorgam a nosso ver maior autenticidade às suas imagens, evitando assim certo “ruído”, que decerto estaria presente, caso fosse adoptada uma subjectividade assumida e menos neutral - embora o grau zero da escrita, como refere Roland Barthes, não exista.

A questão dos pontos-de-vistas múltiplos faz com que o trabalho específico “Sections of a Happy Moment” (2007) de David Claerbout (1969, Bélgica) seja também uma referência importante para esta investigação.

Esta obra de Claerbout, que em momento expositivo se apresenta como uma instalação de vídeo com a duração de 26 minutos, descreve um único momento através de 180 fotografias tiradas de diferentes ângulos e posições, que vão surgindo de forma cadenciada.

Este trabalho retrata um momento íntimo de uma família chinesa, onde duas crianças brincam com uma bola, estando rodeadas pela família, surgindo pontualmente eventuais transeuntes.

O vídeo da instalação proporciona ao observador uma experiência quase que virtual, pois o momento captado não está propriamente a decorrer de forma contínua. Isto é, trata-se de um instante que é congelado e dissecado, pois é perceptível de variados e múltiplos pontos de vista. Isto leva-nos também a questionar o que é o real através desta experiência sensorial da percepção (subjectiva e infinitamente variável).

Desta forma, David Claerbout explora a noção de tempo, através da manipulação do seu fluxo. Como o artista diz “photographs are films that keep their mouth shut” e, apesar da fotografia ser uma imagem estática, o autor consegue reinventar o significado de “continuidade”. Ou seja, o autor consegue bloquear/trancar o decorrer do tempo (e portanto, a noção de continuidade), explorando a dualidade dos conceitos de intimidade e observação.

Este trabalho é pois uma construção: embora seja apenas um único e mesmo instante retratado, a montagem das várias imagens em vídeo parecem transmitir uma sensação de continuidade, apesar da fragmentação que se sente, pois o que se lê são fotografias/ imagens estáticas. Segundo o autor, as pessoas/personagens, devido à sua posição estática, parecem estátuas ou parte integrante da arquitectura em redor. Tornam-se em objectos, tal como os edifícios em seu redor.

No seu método de trabalho, Claerbout estudou não só a posição das câmaras (através de esboços em desenho para possíveis enquadramentos), como também ensaiou em estúdio as posições e acções dos personagens retratados. Todos os detalhes foram controlados e criados propositadamente para recriar a acção/ cena até ao pormenor, sendo pois um trabalho de teor ficcional em busca da representação do real e das suas possíveis facetas.

Esta estratégia remete-nos, inevitavelmente, para o trabalho (ficcional) de Jeff Wall (1946, Canadá), vejam-se obras como “Morning Cleaning“ (Mies van der Rohe Foundation, Barcelona, 1999) ou “A View from an Apartment” (2004/05). Na base da sua metodologia de trabalho está sempre a encenação completa do espaço – ficções. É curioso remeter esta estratégia para o fotógrafo da era moderna, Julius Shulman, e o seu “dressing the scene”, estratégia essa que absorveu do arquitecto Richard Neutra com quem trabalhou.

É, portanto, no método de trabalho e no conceito de múltiplas perspectivas (e percepções), que esta obra de Claerbout é uma clara e óbvia referência nesta investigação, pois pretende-se explorar a apropriação do espaço pelo ser-humano e as diferentes percepções possíveis de um mesmo instante.

Por fim, uma última referência: Paul Graham (1956, Reino Unido), pela forma como este autor contemporâneo combina paisagem urbana e a presença humana. Claramente influenciado por autores como Robert Adams, o projecto “A Shimmer of Possibility” é uma série fotográfica (em doze short stories) feita a partir de muitas viagens pelos EUA, entre 2004 a 2006.

De certa forma, este projecto fotográfico retrata diversos momentos banais que fazem parte de um quotidiano aparentemente normal, apresentando-os em sequências. Desde um homem que corta relva enquanto caem pequenas gotas de chuva, passando por uma mulher que degusta uma refeição de fast-food no passeio, todas elas são narrativas “serenas” que não têm a pretensão de um embelezamento do mundo ou da sua construção em imagens perfeitas.

Na verdade, uma das características que atravessa o seu corpo de trabalho, são estes momentos de aparente insignificância e banalidade que, quando analisados numa leitura mais profunda, nos podem de facto contar histórias da sociedade contemporânea onde estamos inseridos (veja-se, a título de exemplo, o trabalho “Beyond Caring” de 1984-85).

Os temas retratados por Graham são, pois, a referência para esta investigação. Os momentos ou situações aparentemente banais do quotidiano, que neste caso se situarão no universo do edifício da FAUP, são um dos leitmotiv das imagens que se pretendem criar, estruturando e organizando esse registo por subséries.

Embora a estratégia adoptada para esta pesquisa visual do espaço e vivência na FAUP passar por separar situações diversas (espaços diversos), que funcionam de forma autónoma, estas possuem a sua maior força quando se percebe que os vários conjuntos funcionam como um todo para a criação de uma narrativa mais geral.

Trazendo de novo o enfoque para o trabalho fotográfico desta pesquisa e caso de estudo, este projecto distingue-se e é inovador pela forma como aborda um espaço construído que, a partir da ideia corbusiana de promenade architecturale, nos dá uma leitura pessoal e multi-facetada com a introdução da perspectiva “caleidoscópica” e que é oferecida nos momentos de apropriação. E é precisamente esta característica que define a especificidade desta forma de aproximação como parte estruturante e definidora deste caso de estudo: a exploração do conceito de momento, de instante. Nesse campo temos autores teóricos como Philippe Dubois que já escrutinaram esse “corte” espaço-temporal do acto fotográfico: “(…) toda a fotografia é um corte, todo o acto (de tomada de vistas ou de olhar a imagem) é uma tentativa de “fazer um corte”; (…)”. (2011, p.163,164)

Dubois fala-nos do gesto do corte como acção associada ao próprio acto fotográfico. A imagem fotográfica interrompe o tempo, imobilizando um instante. O mesmo acontece a nível espacial –isola e recorta. A fotografia é pois uma impressão de espaço-tempo.

Dentro da ideia de corte temporal diz-nos que a imagem fotográfica não recorda um “percurso temporal”, mas sim o corte de uma continuidade temporal (e a sua consequente cristalização). Como se o movimento se pudesse recortar em diversas imobilizações, desfragmentando-o. Inevitavelmente se associa esta ideia a trabalhos pictóricos de experiências de representação do movimento como “Nú descendo uma escada n.º2” (1912) de Duchamp (1887-1968) ou até mesmo as sequências fotográficas de movimento (do cavalo, por exemplo) de Eadweard James Muybridge (1830-1904). Assim, entende-se que durante o movimento, os corpos têm uma posição diferente no espaço a cada instante (o movimento só existe quando lido entre dois pontos espaciais de forma contínua), e a fotografia permite-nos uma maior aproximação e consciência de cada fragmento de tempo.

Tudo isto nos remete para a noção (paradoxal) de instante:

"(…) o acto fotográfico reduz o fio do tempo a um ponto.(…) o fragmento de tempo isolado pelo gesto fotográfico, desde que é arrebatado pelo dispositivo, (…), passa imediatamente e em definitivo para o “outro mundo”. E dispõe uma temporalidade contra uma outra." (Dubois, 1992, p.169)

Ou seja, entra para uma nova temporalidade (simbólica)– a temporalidade da fotografia enquanto objecto físico, consumível e palpável. Aqui, o tempo é infinito, pois não se esgota na sua imobilidade, na sua fixação (falamos da imutabilidade da imagem). O acto fotográfico transpõe o tempo real, isto é, proporciona uma passagem para a perpetuação do instante.

"All photographs are memento mori. To take a photograph is to participate in another person’s (or thing’s) mortality, vulnerability, mutability. Precisely by slicing out this moment and freezing it, all photographs testify to time’s relentless melt." (Sontag, 1997, p.15)

Já na ideia de corte espacial, o enquadramento é per se um corte. O espaço fotográfico não é construído, é subtraído do mundo, permitindo ao fotógrafo manipular a percepção dos espaços.

Na verdade aquilo que não se mostra numa fotografia é tão importante como aquilo que se dá a ver, assim como no campo da arquitectura , e transportando a ideia de Fernando Távora da sua teoria “Da Organização do Espaço”, o espaço que se desenha, enquanto forma, é tão importante como o espaço sobrante , isto é, “o espaço que separa e liga as formas é também forma” (1999, p.12). Ou seja, o espaço ausente do campo de representação, apesar de excluído do enquadramento, sabemo-lo presente – “relação do campo com o fora-do-enquadramento”. (Dubois, 1992, p.182), pois há uma relação de contiguidade entre eles. Este aspecto dá ambiguidade à leitura das imagens, imprimindo-lhes uma outra camada, profundidade e até pregnância.

A representação fotográfica coloca ainda “fora-de-campo” o próprio tempo. O movimento desaparece, pois há uma paragem (da deslocação das personagens). É precisamente isso que se explora neste trabalho: o espaço representado passa a espaço de representação.

"(…) in terms of a politics of representation, imagery offers us ways of comprehending phenomena and experiences; photographic perceptions influence ways of seeing. For this reason what is represented, how it is represented, and who has the power to represent constitute contested terrain." (Wells, 2011, p.6)

Neste trabalho visual, pode-se também perceber que os espaços e a sua apropriação são entendidos como produto social, pois algumas destas imagens dizem-nos algo acerca da construção cultural (paisagem) deste sítio, assim como das suas transformações.

Quando um arquitecto projecta um espaço ou edifício, ele prevê os seus usos, paisagem e o ambiente social que poderá ser construído, e são estas intervenções que fazem de um espaço um lugar, e que aqui se pretendem realçar através da representação sincronizada de um momento.

Concluindo, uma fotografia é uma “imagem-acto” (Dubois, 1992, p.11), pois não se limita a uma folha de papel, a uma reprodução “consumível” enquanto objecto físico. A fotografia, enquanto acto, é uma experiência, não só de quem a regista como também de quem a recebe/observa /contempla. Esta não é apenas uma simples e mecânica reprodução/imitação objectiva do real, podendo questionar algo muito mais profundo e ontológico. Daí se diferenciar o mero acto de “tirar uma fotografia” do de “criar uma imagem”.

O século XX trouxe esta possibilidade de transformação do real pela fotografia, pois esta já não é vista como um veículo da realidade empírica (daí se questionar a sua validade enquanto documento científico), tendo sempre em aberto a possibilidade de se assistir a algo novo. Já para não falar de que o spectator (o observador, na linguagem barthesiana) tem sempre uma experiência (reacção) subjectiva com a fotografia que observa – e isto prende-se também com outros factores externos (e que não são controlados pelo fotógrafo) tais como a forma como a imagem é apresentada, o background do observador, etc.

Todavia, o fotógrafo, enquanto operator, está sempre presente nas imagens que cria – “a sua realidade primeira é uma afirmação da existência” (Dubois, 1992, p.47) – podendo criar narrativas visuais acerca da realidade que o rodeia, despertando novas percepções e pontos-de-vista (inesperados ou não) a quem visualiza e percepciona as suas imagens. E foi este o resultado final: um trabalho fotográfico que revela um olhar curioso, atento e criativo sobre a FAUP, trazendo à luz uma forma autónoma, exploratória e menos convencional de leitura da arquitectura e das relações que esta proporciona.

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