1 PHOTO(GRAPHER): EDDY JOAQUIM
POR HUGO OLIVEIRA
HO: Onde e quando foi esta fotografia registada?
EJ: Em La Tourette, em França, na manhã de 7 de Julho de 2001.
HO: Quais eram as condições no local?
EJ: A temperatura era amena. A primeira luz da manhã, longas sombras, ligeiramente difusas, serenidade. Os sons sugeriam um mosteiro totalmente funcional e em funcionamento. Serenos devido à função do edifício mas também pelo simbolismo de um local sagrado. O ar estava ligeiramente húmido e fresco, particularmente no sítio onde foi tirada a fotografia, que estava ligeiramente debaixo de terra.
HO: Existe algum aspecto técnico que queira mencionar?
EJ: A imagem foi tirada em rolo fotográfico e por isso está com um pouco de grão e não muito focada devido à pouca iluminação no interior e ao alto contraste proveniente das aberturas de luz acima. Ao longo dos anos, à medida que revisitava esta imagem, as imperfeições técnicas transmitem-me a ideia de que a mesma imagem é verdadeira tendo em conta a minha memória do loca. Possivelmente, as cores foram acentuadas devido ao tipo de rolo fotográfico usado, mas mesmo assim sinto que é a imagem é verdadeira na minha memória do local. Recordo-me que as cores eram muito intensas, em directo contraste com as percepções que eu tinha das obras de Le Corbusier, frequentemente publicadas através de fotografias a preto e branco que pareciam quase clinicas e desprovidas de vida. Quando se está no local é totalmente o oposto e esta fotografia recorda-me isso mesmo.
HO: Como surgiu a oportunidade de fotografar esta obra?
EJ: Por meu próprio interesse. Sou formado como arquitecto e exerço arquitectura e faço questão de visitar edifícios notáveis sempre que posso, tanto para aprender fotografia como para fotografar.
HO: O que é mais interessante para si nesta imagem?
EJ: As cores vibrantes e aparente fortuita composição formal que de alguma forma estava espacialmente muito equilibrada.
HO: Existe algum momento particular ou engraçado sobre este registo?
EJ: Infelizmente não foi uma situação engraçada, mas de qualquer forma muito presente na minha memória. O comboio que me levou à localidade próxima de La Tourette colheu uma pessoa. Ficamos presos numa área rural francesa por algum tempo, enquanto a polícia investigava o que se tinha sucedido. Nunca me esquecerei do som do impacto, que foi imperceptível até ao momento em que compreendemos porque razão o comboio tinha parado subitamente no meio do nada. É uma estranha memória para associar à tão maravilhosa experiência de visitar um edifício tão notável e tranquilo, no entanto estranhamente apropriado, um complemento à beleza inesperada do edifício.
HO: Existe algo que quisesse comunica através desta imagem?
EJ: Bem, ao longo de anos, nas viagens subsequentes que fiz a outros edifícios de Le Corbusier não apenas reforçaram a minha admiração pela humanidade dos seus espaços. Eles são muito mais do que sensorialmente sedutoras e confortáveis do que alguma vez alguém possa pensar olhando apenas para uma fotografia!
Eddy Joaquim é fotógrafo e arquitecto.
A imagem e entrevista seleccionadas fazem parte do projecto editorial "1 Photo(grapher)".