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SOBRE AS OBRAS DE ÁLVARO SIZA VIEIRA
A selecção dos quatro edifícios para este primeiro caso de estudo, de entre a extensa e importante obra do Arquitecto Álvaro Siza Vieira (11), teve em conta o significado especial de cada um destes projetos.
O conjunto formado pela Casa de Chá da Boa Nova, a Piscina das Marés e a Piscina da Quinta da Conceição correspondem a obras do início da carreira do arquitecto e estão localizadas em Matosinhos, Leça da Palmeira, a cidade onde Álvaro Siza Vieira nasceu e cresceu. Estas suas primeiras obras são ainda hoje referências incontornáveis para se perceber a sua arquitectura, nomeadamente a influência do Moderno e de arquitectos como Alvar Alto e Frank Lloyd Wright, a importância do lugar e a síntese genial destes factores, que a sua obra revela. Estes edifícios constituem também importantes referências identitárias do Grande Porto, sendo todos eles exemplos de uma linguagem ímpar, carateri zada por uma notável síntese entre as formas e materiais de cada obra e os contextos naturais onde se inserem. Rocha, areia e mar, no caso da Casa de Chá da Boa Nova e das Piscinas das Marés e o universo verde de parque público, no caso da Piscina da Quinta da Conceição. Estas três obras marcaram o panorama da arquitectura nacional e internacional pela genialidade com que o arquiteto integrou o contexto identitário e regional com o moderno (12). A primeira destas três obras é a Casa de Chá da Boa Nova (1963) fotografada por Helder Sousa (13), classificada como monumento nacional em 2011. É uma arquitectura que se funda sobre os rochedos do extremo oeste da praia da Boa Nova, em Leça da Palmeira, constituindo um exemplo de integração magistral na paisagem e na sua topografia. Nesta obra é manifesta a influência de Alvar Aalto, nomeada- mente dos edifícios da Câmara de Säynätsalo e da Maison Carrée.
A segunda obra é a Piscina da Quinta da Conceição, fotografada por Sérgio Rolando (14), uma arquitectura inserida no interior de um parque público situado em Leça da Palmeira, local onde anteriormente existiram as instalações do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ordem de São Francisco (1481). Este conjunto foi alvo de importantes melhoramentos coordenados por Fernando Távora na década de 60, de onde se destacam o pavilhão de ténis e a piscina, esta última da autoria de Álvaro Siza Vieira. Inaugurada em 1965, esta arquitectura caracteriza- se, entre outros aspectos, pelo traço modernista e novamente pela integração no meio, neste caso a topografia e vegetação do parque.
A terceira obra, as Piscinas das Marés (1966), fotografada por Marta Ferreira (15), situa-se na marginal de Leça da Palmeira, perto da Casa de Chá e é, à seme- lhança da Casa de Chá da Boa Nova, uma obra que nasce sobre uma formação rochosa. Esta arquitetura acompanha a avenida sem que quase se note a sua presença, desenvolvendo-se a uma cota inferior à da estrada e possui uma estrutura topográfica que interliga de forma magistral a marginal, a forma- ção rochosa e o mar. Segundo Peter Testa (16), as piscinas funcionam “como uma suave abertura tridimensional que organiza a passagem da terra para o mar”. Por fim, a quarta obra, a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), onde Álvaro Siza Viera foi Professor Convidado durante vários anos, constitui um espaço de investigação e ensino da arquitectura de referência internacional, sendo visitado todos os anos por inúmeros alunos e professores de arquitectura a nível nacional e internacional.
Fotografada por Sofia F. Augusto (17), a FAUP é um local emblemático e um edifício que constitui uma notável aula de arquitectura viva – uma arquitectura de arquitecturas, segundo diversos autores (18). É também um exemplo significativo de desenho e clareza geométrica – que são marcas do movimento Moderno em Arquitectura e dos maiores expoentes deste movimento, como por exemplo Adolf Loos e Le Corbusier – e da preocupação de adequação ao uso, sem que isso se confunda com funcionalismo, e de racionalidade no modo como aplica os materiais.
Referências
10. Neto, Pedro L. R. F. 2015. Art and documentary photography Architecture, City and Territory. In Cityzines, 56 – 76. ISBN: 978-989-97699-9-1. Porto, Portugal: scopio Editions.
11. Álvaro Siza Vieira é o arquitecto português com mais visibilidade e prestígio internacional, dis- tinguido com prémio Pritzker em 1992, cuja obra é uma referência da arquitetura portuguesa e internacional, tendo influenciado várias gerações de arquitetos, entre eles o arquitecto português Eduardo Souto de Moura, também ele prémio Pritzker em 2011. Um arquitecto da chamada Escola do Porto, formou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) em 1955, sendo detentor de inúmeros prémios e galardões de prestígio nacional e internacional, como, entre muitos outros, a Medalha de Ouro da Fundação Alvar Aalto (1998), o Prémio Príncipe de Gales da Universidade de Harvard (1998), o Prémio Europeu de Arquitetura da Comissão das Comunidades Europeias/ Fundação Mies Van der Rohe (1988) e o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2012).
12. Peter Testa, A arquitectura de Álvaro Siza = The architecture of Álvaro Siza, Edições da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1988, p. 186
13. Hélder Sousa, é fotógrafo desde 2008. Após terminar a licenciatura em Artes Plástica-Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, inicia-se no meio da fotografia. Em busca de novos conhecimentos, decide fazer o Mestrado em Comunicação Audiovisual, especiali- dade em Cinema e Fotografia Documental pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto. Com diversos trabalhos publicados e exposições referimos o seu projecto Unfinished Projects, que se debruça sobre o desenvolvimento urbanístico do conce- lho de Valongo, na periferia da cidade do Porto e que foi publicado no livro Topografias a Norte, pela scopio Editions em 2014.
14. Sergio Rolando trabalha como fotógrafo e é docente no Ensino Superior. Estudou fotografia no IPF, licenciou-se em Tecnologia de Comunicação Audiovisual e concluiu o mestrado em Fotografia e Cinema Documental na ESMAE – IPP. Expõe regularmente e possui diverso trabalho publicado.
15. Marta Ferreira vive e trabalha no Porto. Em 2010 terminou a licenciatura em Tecnologia da Comunicação Audiovisual na ESMAE-IPP, onde em 2012 concluiu o Mestrado em Fotografia e Cinema Documental.
16. Peter Testa, A arquitectura de Álvaro Siza = The architecture of Álvaro Siza. Edições da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1988, p. 137
17. Sofia F. Augusto, arquitecta com Mestrado Integrado em Arquitectura pela FAUP (2011) e Mestrado em Comunicação Audiovisual, especialização em Fotografia e Cinema Documental, na área da Fotografia Documental, pela ESMAE (2016), desenvolveu o projecto fotográfico Arquitetura e Fotografia – Mapeamento Fotográfico: apropriação, perceção, momento (AF – MF), sob a coor- denação e supervisão de Pedro Leão Neto durante o seu estágio profissional na Cityscopio – Associação Cultural que se encontra associada ao grupo de investigação Centro de Comunicação e Representação Espacial (CCRE) da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP).
18. A este respeito, entre outros, ler: Jorge Figueira, A Periferia Perfeita: Pós-Modernidade na Arquitectura Portuguesa, Anos 60 – Anos 80. Dissertação de Doutoramento pela Universidade de Coimbra, Março 2009 , p. 289 e Manuel Mendes (coord.) O Edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto: percursos do projecto. The Building of the Faculty of Architecture at Porto University: course of the project. FAUP Publicações, 2003