TRABALHO / MODOS DE VIDA

 
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TRABALHO / MODOS DE VIDA

 

TRABALHO / MODOS DE VIDA


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A galeria Trabalho / Modos de Vida reúne um conjunto de projectos de fotografia contemporânea (CPP) que exploram e problematizam a temática do trabalho e modos de vida característicos de diversas populações da AMP na contemporaneidade. Estes CPP devem, por um lado, estar atentos à relação entre os espaços de arquitectura, a cidade, o território e as suas vivências — ou seja, comunicar como estes espaços são apropriados pelas pessoas, reflectindo os valores e modos de vida da sociedade contemporânea. Por outro lado, os CPP devem ser informados por diversas referências e estratégias artísticas, sendo capazes de se destacar das leituras e/ou imagéticas do universo documental tradicional.

As sociedades contemporâneas globalizadas apresentam um conjunto de características que condicionam os modos de vida e de trabalho das mais diversas populações. Há inúmeros problemas que atingem muitas regiões do mundo. Quer estejamos em territórios mais afastados ou isolados das economias de mercado, em países ditos emergentes ou em regiões com uma economia de mercado altamente desenvolvida.

Sabemos que a globalização está na raiz de inúmeras transformações na dinâmica das cidades, muitas delas disruptivas e há ainda um aceso debate que questiona os benefícios e /ou inconvenientes deste processo internacional, havendo também quem tente, por um lado, encetar um debate que vá para além do espartilho teórico das teorias realistas / neo-realistas versus liberais / neo-liberais e / ou defenda outras visões sobre a globalização e as relações entre estado a nível internacional (i.e. teorias construtivistas, marxistas, pós-modernas, ecológicas e muitos outras mais). Há quem entre estas várias teorias ou movimento, tente perceber as mudanças no mundo em resultado da globalização introduzindo novas lógicas integrando uma componente interdisciplinar nessa análise da contemporaneidade como foi feito, por exemplo, por Ulrick Beck no seu livro “A metamorfose do mundo” (2016) onde explica como as alterações climáticas estão a transformar a sociedade e refere o potencial de emancipação existente para a humanidade a partir da catástrofe e da metamorfoses colocados pela mudança climática. 

Referindo algumas questões disruptivas que podem interessar explorar nesta galeria, chamamos a atenção para o que Zygmunt Bauman defende no seu livro Liquid Modernity (2000) que é o facto de vivermos numa era de modernidade “fluída”, pautada pelo “desengajamento, elusividade, fuga fácil e perseguição desesperançada”.  Bauman afirma ainda ter sido nesta era que o poder se tornou “exterritorial”, ao deixar de estar confinado pela “resistência do espaço” e é agora livre de circular de forma instantânea, assumindo diversas formas (emails, telefonemas, etc.). No plano do trabalho, Bauman destaca também a “incerteza” da conjuntura actual e afirma que a “flexibilidade” é o slogan do mercado, augurando o fim do “trabalho tal como nós o conhecemos”, com o crescimento cada vez maior dos contratos de curta-duração, contratos com termo incerto ou simplesmente da ausência de contratos. 

Yuval Noah Harari é um outro exemplo significativo que interessa mencionar porque é um autor que tenta contextualizar de forma global e alternativa os problemas das sociedades contemporâneas, dando assim uma nova percepção da nossa era actual. Integrando diversos saberes – ciência, tecnologia, arte, política, religião e outras mais -, e levando-nos à auto-reflexão sem cair em dogmas, Yuval faz um esforço de síntese considerável apontando questões que são centrais num mundo cada vez mais repleto de informação não estruturada e muitas vezes irrelevante. O autor, no seu último livro “21 Lições para o Século XXI” diz-nos, entre outras coisas, que a globalização é um processo mundial que está a influenciar com uma intensidade e uma escala nunca vista diversas sociedades, levando a alterações significativas da conduta pessoal e moral de muitos de nós. Yuval chama a atenção para um fenómeno muito grave no presente que é o de vivermos numa certa confusão em virtude de, não só certas antigas narrativas sociais e políticas terem falido, como eram o fascismo e o comunismo, como também pelo facto do liberalismo nas sociedades das políticas democráticas, dos direitos humanos e do capitalismo de mercado livre parecerem agora estar a ficar descredibilizados, sem existirem alternativas credíveis para o substituir. Tudo isto que está a acontecer, diz-nos o autor, é ainda mais grave porque ocorre no preciso momento em que uma revolução sem precedentes das tecnologias da informação e da biotecnologia confronta a humanidade com desafios que podem colocar em perigo a sua liberdade. Isto porque a fusão destas duas áreas pode significar a perda do trabalho de milhões de pessoas, bem como o curto-circuito ou diminuição da liberdade e equidade de oportunidades que ainda existem neste momento.

Outro autor que podemos referir é Ash Amin que discute as mudanças no mercado de trabalho contemporâneo do mundo ocidental no livro Post-Fordism: A Reader (Studies in Urban and Social Change) (1994). Nele, Amin refere que “a centralidade dos grandes complexos industriais, o trabalho de colarinho azul, o emprego a tempo inteiro, burocracias centralizadas de gestão, mercados de massa para bens estandardizados de baixo custo, o estado de bem-estar social, partidos políticos de massas e a centralidade do estado nacional enquanto unidade de organização” estão sob ameaça, o que contribui para o sentimento de que um “velho método de fazer as coisas pode estar a desaparecer ou a tornar-se reorganizado”. 

Por fim, também podemos referir os autores que tentam dar uma resposta a esta globalização capaz de a contrariar nos seus aspectos mais disruptivos, contribuindo para uma ideia de maior sustentabilidade e equilíbrio para a sociedade contemporânea. Autores que muitas vezes propõe modos de vida alternativos e sustentáveis ou comunidades que têm como guia paradigmas e ideais utópicas que exploram em teoria e na prática novas interações e relações entre a natureza e o humano, bem como uma vida assente noutros valores sociais, políticos e económicos. Exemplos destes autores, movimentos e / ou comunidades alternativas são, entre outras, por exemplo a organização WWOOF - World Wide Opportunities on Organic Farms - e suas inúmeras quintas orgânicas espalhas pelo mundo fora e também em Portugal.

Todas estas alterações nas dinâmicas sociais contemporâneas estão também na raiz da constante transformação das sociedades e dos territórios. E parte dessas transformações afectaram e continuam a afectar diversas actividades do trabalho, assim como o modo de vida de quem as pratica. 
Nesta temática, intitulada Trabalho / Modos de Vida, procuramos compreender o mercado do trabalho contemporâneo da AMP: 

- Quais são as profissões emergentes e quais são as que se encontram em risco de extinção? 
- Quais os sectores de actividade com maior e menor taxa de empregabilidade? 
- Quais são as novas dinâmicas que se criaram e quais são as que se perderam? 
- De que forma é que diversos espaços e arquitecturas reflectem diferentes modos de viver e de trabalhar?

Será a partir do universo da fotografia documental e artística, através de projectos de fotografia contemporânea (CPP) que tirem partido deste media enquanto veículo de comunicação e instrumento de investigação (onde o imaginário e ficcional podem e devem estar presentes de forma significativa) que tencionamos dar resposta a estas interrogações, além de explorar as questões de ordem cultural, social, económicas e políticas, subjacentes ao mercado do trabalho da AMP.