ESTAÇÃO DE METRO DA TRINDADE
POR ANA MIRIAM
O conjunto de imagens aqui apresentado constitui uma formulação breve do resultado de um projeto de investigação, que se concretizou num objeto impresso multiforme, denominado Clareira. Nesta versão digital, com curadoria de Pedro Leão Neto e Né Santelmo, procurou-se criar uma narrativa visual capaz de comunicar a essência do projecto fotográfico, criando uma série com uma nova dinâmica. É através da forma como as imagens são combinadas nas diversas páginas que elementos chave do projecto fotográfico são percepcionados e fortalecidos como, entre outros, a experiência do lugar, presenças, ausências e passagens.
A partir de uma perspetiva fenomenológica, Clareira propõe uma abordagem visual que pretende contribuir para a representação do espaço arquitetónico, como lugar de experiência. A estação de metro da Trindade, pela sua condição de espaço público, ao mesmo tempo edifício e praça, quotidianamente atravessado e apropriado por uma grande diversidade de pessoas, foi escolhida como laboratório de experimentação de estratégias visuais através das quais se observa a relação deste espaço com os elementos humanos e ambientais que o permeiam e a partir das quais se ensaia também uma reflexão sobre a perspetiva a partir da qual o espaço é observado.
O projeto demarca-se assim, de abordagens centradas na comunicação e interpretação de ideias arquitetónicas, concentrando-se na existência material, nas dinâmicas de utilização e no devir da obra. A linguagem plástica utilizada procura distanciar-se do legado formal da objetividade fotográfica, ainda dominante, assumindo uma perspetiva marcadamente subjetiva e reclamando a influência de autores como Guido Guidi, Michael Schidmt e Rut Blees Luxemburg.
Peter Zumthor surge como principal referência teórica, na procura de um posicionamento de si, e de uma atitude perante o real, caraterizados por uma presença física atenta e disponível, centrada na perceção sensorial. Foi a partir deste modo de estar que se procurou um modo de comunicar a experiência, ou por outras palavras, uma abordagem fotográfica. Clareira convida o espectador a tomar o lugar da autora e a observar os vestígios fotográficos de momentos em que a magia do real se manifestou algures entre sujeito e objeto.