Déjà Vu - Uma Lembrança do Presente por Leonardo Motta Campos (AoLeo)

 

Déjà Vu - Uma Lembrança do Presente

por Leonardo Motta Campos (AoLeo)

Déjà vu, uma lembrança do presente surge como uma adaptação da poesia de Manoel de Barros, evidenciando a transição do tempo em corpos e lugares, de modo a revelar na sua visualidade através de camadas de significados. Sob o desígnio de elaborar uma arqueologia poética contemporânea, o projeto artístico apropria-se de antigos cartões postais da cidade do Porto para utilizá-los como camada temporal-imagética, sob a função cartográfica que norteia o encontro e a confrontação de sítios esquecidos e transformados pela ação de construir e reconstruir o espaço urbano.

 

Fendas Intemporais por Jiôn Kiim & Artur Leão

 
 

FENDAS INTEMPORAIS

POR JIÔN KIIM & ARTUR LEÃO

EN / PT

Este espaço de ruína emanava uma sensação muito forte, tinha algo de sagrada que nos levou a explorar com especial interesse os seus elementos construídos abandonados que conjugados com a luz e as marcas do tempo definiam um genius loci particular.
Todos os vãos do edifício são elementos com muita força e servem como significativo foco para o olhar do espectador, despertando nele ainda mais o mistério por detrás do local onde aqueles adensamentos de luz nos levam. Esses vãos - buracos ou aberturas - são na verdade “buracos negros” através dos quais nos podemos projetar para uma espaço muito maior do que a dimensão que o pequeno orifício representa na imagem, ficamos quase que comprimidos e sugados pela sua imensidão. Os buracos claros e escuros transmitem uma energia muito poderosa, que nos faz parar no tempo para os observar e refletir.

O espaço já perdeu a sua função original e a sua arquitetura em ruína comunica um desleixo de algo que já deixou de ser e, por isso, é agora um espaço esquecido em busca de uma nova identidade e programa que lhes confira uma história e os transforme de forma significativa. E é esta busca por uma nova função e o potencial destes espaços em ruína que os torna elementos muito importantes para o universo da arquitectura e da cidade. Refiro-me especificamente a autores como: Sola-Morales que explica e defende um novo olhar sobre a cidade consolidada a partir destes espaços abandonados e em ruínas - Terrain Vague - que não “encaixam” numa determinada ideia de urbanidade ou arquitetura. Este novo olhar significa, acima de tudo, perceber que se pode intervir nestes espaços marginais da cidade existente através de programas, que nem sempre exigem construir novas formas de arquiteturas, que oferecem a estes espaços um novo significado e a preservação e registo da sua memória. Exemplos disso são apropriações e programas ligados a diversas manifestações artísticas que transformam e dão uma nova vida a estes espaços.

Bio - Jiôn Kiim
Nasceu em Busan na Coreia do Sul. Frequentou o BFA em Design Industrial, especialização em Espaço e Produto na Hongik Univ. em Seul. Trabalhou como investigadora para o desenvolvimento de produto no laboratório da LG Electronics na Coreia. Depois de deixar a empresa, começou a sua própria pesquisa artística. A um semestre de estudos na ABK Stuttgart como aluna convidada, seguiram-se cinco anos na HfBK Dresden, tendo concluído o Diploma, especialização em Conceitos Expandidos de Arte. Em 2015, foi bolseira do DAAD Erasmus para a prática artística contemporânea no curso de mestrado da FBAUP. Recentemente colaborou com a Cityscopio Cultural Association no campo da fotografia como instrumento crítico, poético e de pesquisa para arquitetura, cidade e território. Expôs em várias exposições coletivas em espaços como o Salon Sophie Charlotte em Berlim, Motorenhalle em Dresden, Centro de Memória em Vila do Conde, GNRation em Braga, Espacio ZAWP em Bilbao, Maus Hábitos no Porto e Artspace O em Seul. A sua tese foi apresentada no Oktogon em Dresden. Durante 2018 desenvolveu uma pesquisa fotográfica em torno de ruínas e espaços industriais abandonados que resultou nos projetos 'Terrain Vague: Post forist Society' e 'Fendas intemporais'. Atualmente vive e trabalha no Porto.

Bio - Artur Leão
Frequentou a Escola Artística de Soares dos Reis no Curso de Comunicação Audiovisual - Especialização em Fotografia. Licenciado em Artes Visuais e Fotografia pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP). O seu trabalho Teedoff está publicado na plataforma digital da scopio Editions (2017). Integrou as exposições coletivas “6 - Exposição de Artes Visuais” (2017) na Torre B do Edifício de Belmonte; “Do Not Touch Fresh Paint!” (2018) no Espaço MIRA; e “Playlist #25” (2018), projecto curatorial de Nuno Ramalho no Café Candelabro. O seu projecto “Fendas Intemporais” (2018) foi selecionado para expôr na espaço da livraria da Associação dos estudantes na FAUP durante o ano de 2018. Co-fundador do projeto musical Benthik Zone.
Vive e trabalha na área metropolitana do Porto.

 

 ESTAÇÃO DE METRO DA TRINDADE POR ANA MIRIAM

 

ESTAÇÃO DE METRO DA TRINDADE
POR ANA MIRIAM

O conjunto de imagens aqui apresentado constitui uma formulação breve do resultado de um projeto de investigação, que se concretizou num objeto impresso multiforme, denominado Clareira. Nesta versão digital, com curadoria de Pedro Leão Neto e Né Santelmo, procurou-se criar uma narrativa visual capaz de comunicar a essência do projecto fotográfico, criando uma série com uma nova dinâmica. É através da forma como as imagens são combinadas nas diversas páginas que elementos chave do projecto fotográfico são percepcionados e fortalecidos como, entre outros, a experiência do lugar, presenças, ausências e passagens.
A partir de uma perspetiva fenomenológica, Clareira propõe uma abordagem visual que pretende contribuir para a representação do espaço arquitetónico, como lugar de experiência. A estação de metro da Trindade, pela sua condição de espaço público, ao mesmo tempo edifício e praça, quotidianamente atravessado e apropriado por uma grande diversidade de pessoas, foi escolhida como laboratório de experimentação de estratégias visuais através das quais se observa a relação deste espaço com os elementos humanos e ambientais que o permeiam e a partir das quais se ensaia também uma reflexão sobre a perspetiva a partir da qual o espaço é observado.
O projeto demarca-se assim, de abordagens centradas na comunicação e interpretação de ideias arquitetónicas, concentrando-se na existência material, nas dinâmicas de utilização e no devir da obra. A linguagem plástica utilizada procura distanciar-se do legado formal da objetividade fotográfica, ainda dominante, assumindo uma perspetiva marcadamente subjetiva e reclamando a influência de autores como Guido Guidi, Michael Schidmt e Rut Blees Luxemburg.
Peter Zumthor surge como principal referência teórica, na procura de um posicionamento de si, e de uma atitude perante o real, caraterizados por uma presença física atenta e disponível, centrada na perceção sensorial. Foi a partir deste modo de estar que se procurou um modo de comunicar a experiência, ou por outras palavras, uma abordagem fotográfica. Clareira convida o espectador a tomar o lugar da autora e a observar os vestígios fotográficos de momentos em que a magia do real se manifestou algures entre sujeito e objeto.

 

ODE por Edu Silva

 
 

ODE

BY EDU SILVA

EN / PT

Esta narrativa visual não é outro conto épico sobre a costa portuguesa e os seus heróicos navegadores. Esses dias desapareceram há muito tempo atrás assim como esses navegadores, que estão mortos ou a morrer. A globalização e a União Europeia vieram, viram, e conquistaram tudo. Barcos de pesca foram desmantelados e estritas quotas pesqueiras foram impostas, enquanto que ao mesmo tempo começou a ser implementada e disseminada, tanto à escala nacional como internacional, uma massiva campanha multiplataforma a promover o turismo em Portugal. E ainda que o turismo seja actualmente um sector em expansão neste país, actividades tais como a pesca ou a apanha do sargaço estão em risco de desaparecimento. Estas novas dinâmicas transfiguraram o tecido da paisagem social da costa portuguesa, alterando a morfologia deste território não apenas no sentido físico, mas também transformaram de forma gradual uma outrora grandiosa nação de navegadores numa frota de empregados de mesa e cuidadores indiscriminados dispostos a atender às necessidades dos turistas (tanto domésticos como estrangeiros). 
A verdade é que neste admirável e inócuo mundo novo, já não há lugar para heróis e perigo. Tudo o que resta são os antigos contos sobre a costa portuguesa, histórias que ainda nos fazem sonhar acordados sobre um lugar que outrora foi o ponto de partida para a aventura. De facto, esta é uma conjuntura difícil para viver do mar. Mas ainda há algumas pessoas que são corajosas o suficiente para resistir às vagas de mudança e ousam lutar pelo seu direito de viver mais outro dia neste fabulado lugar. 
Este ensaio visual é uma ode dedicada aos últimos habitantes da moribunda e outrora grandiosa costa portuguesa. 

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Piscina das Marés - Marta Ferreira

 
 

PISCINA DAS MARÉS

As Piscinas das Marés inauguradas em 1966, marcam de forma discreta a marginal de Leça da Palmeira com um composto de duas piscinas, vestiários, balneários e bar. O projecto é do arquitecto Álvaro de Siza Vieira.

Durante três meses as piscinas são utilizadas para o verdadeiro fim que foram criadas, esse tempo corresponde ao período balnear, meados de junho a meados de setembro. Nos restantes meses do ano as piscinas estão vazias e sob vigilância vinte e quatro horas por dia.

As imagens realizadas são o registo de um espaço que se encontra em transição entre o “natural” e o “artificial”, onde o betão se cruza com a rocha primitiva do local. O seu não estado “normal” de utilização permite em planos mais próximos intensificar essa junção/transição do “artificial” com o “natural”, do desenho do arquitecto, marcado pela utilização do betão, com o “desenho primitivo” das rochas. Em planos mais gerais as piscinas ficam “camufladas”.

O interesse por fotografar durante a “não utilização” do local é evidente na selecção das imagens. A colocação de algumas fotografias das piscinas em utilização marca de forma pontual a narrativa tal como o tempo em que o local é usado.

Marta Ferreira 

 

Contínuo - Sérgio Rolando

 
 

Contínuo

Quinta da Conceição

Contínuo
Quanto tempo é necessário para representar um lugar?

O silêncio, a recordação de coisas essenciais e a atração para um vazio, suspenso no tempo e no espaço.
A envolvente natural, nostálgica e poética, convoca a contemplação e dilui a fronteira do interior com o exterior, sugerindo a repetição e uma relação íntima com o detalhe.

Sérgio Rolando

 

Casa de Chá Boa Nova - Hélder Sousa

 
 

CASA DE CHÁ BOA NOVA

A Casa de Chá Boa Nova resulta de um projecto apresentado num concurso organizado pela Câmara Municipal de Matosinhos. Fernando Távora foi o vencedor e entregou o projecto ao seu colaborador na altura, Álvaro Siza.

A abordagem aqui tomada passa pela atenção pormenorizada ao edifício, pelas suas características mais singulares, mas também
pela sua maior característica, a implantação. Nas tomadas de vistas adoptadas, conseguimos perceber que se torna indissociável a forma do objecto com a sua implantação. Por vezes são mais intimistas, na tentativa de representar este edifício de forma mais isolada do seu contexto, para apresentar as suas formas mais distintas. Quando a abordagem se distancia, podemos ver como a sua implantação está em pura sintonia com a paisagem natural à qual já pertence.

Helder Sousa

 

Momento. Perceção - Representação por Sofia F. Augusto

 
 

FAUP

Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

POR SOFIA F. AUGUSTO

Momento. Percepção-Representação

A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto foi a obra arquitectónica eleita para a exploração conceptual e de teor antropológico deste trabalho, num intuito de retratar os espaços da escola na rotina diária, assim como diversas dinâmicas de apropriação.

Autores relacionados com Fotografia Contemporânea como Paul Graham, Jeff Wall, Thomas Struth ou ainda David Claerbout são referências artísticas basilares para este trabalho e que, pelo facto de não pertencerem ao campo disciplinar da Arquitectura, oferecem novas perspectivas críticas e poéticas sobre este universo. Todos eles têm em comum o facto de tomarem a Arquitectura como objecto artístico e se interessarem pela forma como as pessoas se apropriam dos espaços construídos – tanto a nível privado como público. Para além disso, revelam também um interesse significativo pelos valores culturais e económicos que caracterizam o mundo contemporâneo traduzidos nas formas, materiais e diferentes formas de apropriação da Arquitectura e dos seus espaços.

Como estratégia de trabalho, o registo fotográfico que se apresenta foi realizado tendo em mente a “ideia corbusiana de promenade architecturale”, proporcionando uma leitura contínua dos espaços, com momentos sucessivos, próximo do que poderia ser uma experiência real de percurso. Todavia, é nos momentos de apropriação, (que pressupõem acção e a presença humana), que o registo de imagens se singulariza e nos traz uma nova percepção - o tempo, o espaço e o significado transformam-se. Desta forma, idealizou-se uma estratégia artística que fizesse uso de várias câmaras fotográficas sincronizadas, que registassem o mesmo momento a partir de diferentes pontos-de-vista. É assim introduzida uma nova dimensão no trabalho, passando a ter mais um tema de exploração – o momento –, a partir de percepções diferentes do mesmo espaço e do mesmo instante, explorando assim o lado caleidoscópico da perspectiva.

Contudo, e concluindo, este trabalho pretende explorar a capacidade da fotografia como um instrumento de procura, análise e exploração do espaço, isto é, como um instrumento artístico capaz de criar uma narrativa crítica e poética, permitindo uma nova leitura do real e da forma como o espaço pode ser percepcionado, compreendido e representado.

Sofia F. Augusto